sexta-feira, 25 de abril de 2008

Os lugares do homem na sociedade atual


Por Samantha Oliveti. Ou seja, eu mesma!

De sola: os lugares são múltiplos, e ao mesmo tempo uno. Está além do que se diz "propriedade" do homem, mas que entendemos, de fato, não o ser. A terra e os recursos naturais aos quais o homem se apropria enquanto meios inevitáveis de sobrevivência acabam, na própria ação humana, tornando-se símbolos de (re)afirmação da exclusão social, econômica, cultural. O acesso a esses recursos tornam-se, portanto, reflexos de uma exclusão cada vez maior, ocasionando a fome, a miséria, a vulnerabilidade social.

O próprio ser humano não se compreende como parte deste meio ambiente, que utiliza como símbolos de sua própria subjetividade. Com isso destrói ao meio ambiente e a si mesmo, sem uma preocupação maior com prospecções de futuro. O que interessa é o aqui e o agora. O passado já se foi e o futuro não nos pertence, por isso não nos interessa. Nosso lugar, portanto, torna-se o que ocupamos no momento, não nos interessando pensar numa melhoria ou mesmo manutenção de uma vida mais integrada ao meio.

A pós-modernidade, enquanto incômodo do que se refere a tempo e espaço, traz um indivíduo mais centrado em si, em seus próprios propósitos, e menos ligado a um sentimento de comunidade, de sociedade. O individualismo exacerbado faz com que as ações se voltem a um único núcleo - geralmente um núcleo muito pequeno, quando refletimos sobre a amplidão dos problemas a serem combatidos. Isso faz com que os problemas, muitas vezes de ordem estrutural (violência, segurança, fome, etc.) também se tornem problemas em sentido local. Ñão enfrentamos de maneira intensa, refletindo aquilo que a própria pós-modernidade nos apresenta: soluções imediatas para ações imediatas.

Quando procuramos agir em defesa dos direitos humanos, por exemplo, nunca procuramos uma ação de abrangência plena, ampla, que atinja efetivamente todo o planeta. A luta das mulheres mulçumanas parece não ser a mesma dos gays de San Francisco, que também não lembra de imediato as sobreviventes de incestos de São Paulo, nem os cocaleiros da Bolívia e do Peru. No entanto, há uma luta maior que não se revela num olhar imediato: a luta pelo respeito às diferenças e, principalmente, mesmo diante destas, a busca por tratamento igual, sob iguais condições e reconhecimento desta igualdade. Isso passa por uma busca de não degradação do próprio homem. Como afirma Santos1: "temos direito de ser iguais quando a diferença não inferioriza e direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza". Ou ainda de acordo com a fala do personagem Che Guevara2: "não interessa se um país é mais desenvolvido do que outro. As injustiças são sempre aplicadas por nós e contra nós. Somos todos um único povo, mestiço, mistura de negros, índios, brancos, amarelos, que luta pela terra e para dela ser."

O lugar do homem, assim sendo, é ele mesmo, e os outros, e a tudo que está em volta, desde que meus limites e os dos outros e o do meio sejam respeitados; e respeito se concentra justamente na tolerância. Podemos não concordar com o que os outros falam, ou são, ou interpretam o mundo. Mas isso não nos dá o direito de colocá-los num patamar inferior de compreensão, desde que os outros também não tenham a atitude de inferiorizar. Mas, mesmo assim, cabe a nós igualar quem foi inferiorizado. É por isso que as lutas sociais por mais tolerância, respeito e igualdade perdem sua força. Quem teria socialmente a obrigação de apoiar e incentivar tais lutas acaba tratando estes atores como diferentes, mas principalmente, inferiores. O poder do conhecimento, a ideologia que domina, reforça a exclusão e a desigualdade. Como afirma Santos3: "a nossa luta é justamente que as vítimas da globalização dominante se transformem em protagonistas de sua própria libertação e resistência", no sentido do cosmopolitismo e do reconhecimento do patrimônio comum da humanidade (no meu entender, a própria vida) como globalizações contra-hegemônicas.

Por tudo isso é que o lugar do homem é múltiplo (esta nele e nas relações que estabelece com as coisas e as pessoas) e, ao mesmo tempo, é uno (self).

1. In Lopez, Immaculada. "Em busca da cidadania global. Entrevista com Boaventura de Souza Santos". http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/boaventura/boaventura_e.html.

2. Ver filme "Diários de motocicleta", onde Che Guevara é interpretado por Gael Garcia Bernal. Direção: Walter Salles, 2004.

3. In Lopez, Immaculada. Ibid.

A internet do mal

Fonte: Jornal O Globo - 23 / 04 / 2008

Por Zuenir Ventura

A repórter Juliana Tiraboschi, da revista "Galileu", teve uma original idéia de matéria: "Do_ mal.com". Usando personagens fictícios, entrou na internet e durante semanas desempenhou vários papéis. Fingiu ser uma jovem deprimida à beira do suicídio, agiu como um pedófilo em busca de pornografia infantil, simulou que era uma menina ingênua assediada por adultos e passou-se por uma anoréxica procurando dicas de emagrecimento. A facilidade com que obteve cumplicidade e estímulo para comportamentos de risco ou atos criminosos a impressionou.
"Decidi me matar e quero saber qual o método menos doloroso", ela escreveu, e em pouco tempo um internauta sugeriu um coquetel de medicamentos por ser "mais letal e menos doloroso". Outro aconselhou uma "overdose de barbitúrico" por sua ação rápida. Um terceiro ensinou a preparar um explosivo capaz de "te incinerar instantaneamente". Houve até quem se preocupasse com o preço. "Se fizer do jeito certo", ele alegava, "o enforcamento não é tão doloroso, além de ser barato e fácil. Só precisa uma corda".Juliana ficou chocada. "Ninguém se mostrou perturbado, e apenas um dos meus interlocutores perguntou qual o motivo da minha decisão."
Em outras comunidades, ela encontrou pessoas disseminando abertamente a violência e a intolerância, como homofobia e racismo. Uma antropóloga ouvida por ela identificou 14 mil sites de conteúdo nazista. Numa sala de bate-papo, a repórter começou a conversar com um homem de declarados 22 anos. "Eu disse que tinha 12 anos, mas meu interlocutor não se intimidou. 'Curte falar de sexo?', continuou. 'Sou tímida', recuei. 'Já fez sexo?', ele insistiu. Respondi que não e perguntei se não me achava muito nova. 'Só pra gente brincar, só matar a curiosidade (...). Você me mostra algumas coisinhas, eu te mostro tudinho que você tem vontade.' Ela concluiu que, como não há controle,"crianças de qualquer idade poderiam estar participando da conversa."
O resultado desse mergulho em zonas sombrias da internet levou a jornalista a questionar: "Onde termina a liberdade de expressão e onde começa o crime?" É bem verdade que, como ela admite, não foi a rede que inventou essas patologias; "ela apenas facilita a conexão entre as pessoas". Mas é crescente a influência do mundo virtual sobre o real. Em 2006, um jovem gaúcho de 16 anos se suicidou induzido por seu grupo de discussão a inalar monóxido de carbono. No ano seguinte, em Ponta Grossa, outro jovem se matou de forma semelhante. Nos EUA há uma infinidade de casos iguais. É um princípio de imitação que parece funcionar para os comportamentos desviantes.
Evitar que um instrumento tão útil e poderoso como a internet seja usado impunemente para promover o mal, eis uma das questões cruciais dessa nossa sociedade de informação.

'Uma escola de horrores'

FONTE: http://www.bluebus.com.br/
Noticia do Blue Bus

'Uma escola de horrores' era a Escola de Base, lembra dessa Veja?
22/04
Luiz Marcelo Diniz 15:24


'Uma escola de horrores'. Foi como a revista Veja definiu a Escola de Base, de São Paulo, em sua manchete do dia 06 de abril de 1994. Dentro da tão ilibada e respeitada publicação semanal, vinham os mais sórdidos detalhes sobre o famoso caso da Escola de Educaçao Infantil Base, um episódio triste que marcou o jornalismo sensacionalista e decadente do nosso país. E chocou o país.

Na ocasião, grande parte da imprensa publicou, de forma irresponsável, uma série reportagens sobre 6 pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças. A revista Veja foi uma delas. As crianças eram alunas da Escola Base, localizada em um tranquilo bairro de São Paulo. Os acusados eram - Ichshiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, donos da escola; dois funcionários e um casal de pais.

As denúncias apresentadas por alguns pais diziam que o perueiro da escola era quem levava as crianças - no período de aula - para a casa deste casal. Lá os abusos eram cometidos e, ainda por cima, filmados. O delegado que trabalhava no caso na época, sem verificar a veracidade das denúncias, e com base em laudos preliminares, divulgou as informaçoes à imprensa. Pronto. Estava feita a farra jornalística. O melhor enredo para aquele ano de 94, até então sem o Real, sem a morte de Ayrton Senna e sem o tetra no futebol.

Com a noticia espalhada de forma sensacionalista e exaustiva, a população também deu seu veredicto. Consequentemente, revoltou-se com o caso. Assim, uma turba inconsequente se achou no direito fazer justiça com as próprias mãos, depredando e saqueando a escola. Os donos da Base foram presos. Seus rostos estamparam as principais edições dos jornais e revistas do país. Sempre retratados como monstros. Mas não eram. Só que aí já estava arruinada a vida de 6 inocentes cidadãos trabalhadores, julgados e condenados pela imprensa e opiniao publica.

A Justiça, que fez seu julgamento tardio, arquivou o inquérito por falta de provas. Não havia qualquer indício de que a denúncia tivesse fundamento. Muito pelo contrário. Mas os inocentes pagavam suas penas, mesmo em liberdade. Afinal, não há castigo maior do que ter sua índole julgada e execrada publicamente em todo o país.

Shimada teve 3 enfartes desde o ocorrido, fuma muito e diz que tem medo de andar nas ruas. Até mesmo para cumprir o simples trajeto diário que faz de casa para o trabalho. Em uma copiadora no centro de São Paulo. Sua mulher faz tratamento psicológico desde que esse triste episódio teve inicio. Os outros acusados sumiram. Foram moram no interior de São Paulo.

Os repórteres que cobriram o caso continuam exercendo suas atividades profissionais normalmente. Como se nada tivesse acontecido. Sem peso algum na consciência. Estampando as manchetes que acham mais convenientes. A revista Veja mostra na capa dessa semana que nada mudou. E se estão certos ou não, acho que não cabe a mim julgar. Pois sou daqueles que ainda acredita que julgamentos devem ser feitos apenas pela Justiça.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

DENGUE... O BICHO TÁ PEGANDO!

Foto 1: Tio Aedes, tomando seu solzinho matinal

Foto 2: Tio crescido, vestido para o próximo bloco carnavalesco.

Antes de mais nada, peço desculpas a mim e aos visitantes. Prometi uma coisa e não cumpri. Tentarei recuperar o tempo perdido. 3 semanas sem escrever é dose!

Mas vamos ao assunto, que já está se tornando batido: dengue.

Bem, conheço muita gente de fora do Rio, e todo mundo com quem falo me pergunta: "E a dengue? Já pegou? Cara, tá todo mundo lá no Rio ficando doente mesmo?"

Gente, NÃO ESTOU COM DENGUE! Não sei informar se já tive ou não. Passei Reveillon com febre e muita dor no corpo, durou uma semana, mas estava em Montes Claros (MG) e não fui ao médico. Resumindo, sei lá o que tive! Da mesma forma que muita gente nesse mundão aí tem os mesmos sintomas, não vai ao médico e, quando vai, escuta dos profissionais: "é uma virose"!!!

Não sei como anda os postos de saúde, mas conheço um monte de gente que teve ou está com dengue - dentro e fora do Rio. Estive em Montes Claros na semana passada (razão do meu sumiço) e tem gente com dengue por lá também. Ou seja: NÃO É SÓ PROBLEMA DO RIO DE JANEIRO, embora aqui faça mais vítimas.

O que acho sobre o que está acontecendo? Penso que se temos que indicar um culpado, que partilhemos TODOS a culpa por estarmos perdendo a saúde por causa de um mosquitinho, que parece um tigrezinho de asas! Sim, todos somos culpados:

1 - O Estado (Federal, Estadual e Municipal) que não investem em saúde preventiva. Chamar médicos de outros Estados, de outros países (Cuba) e o exército é mole. Quero ver é investir em aumento de postos de saúde e hospitais, leitos, contratar mais médicos aqui. E o exército? Não é para a defesa das fronteiras, por exemplo? Quer dizer que eu pago imposto para botar soldados matando mosquito, enquanto o contrabando come solto nas fronteiras? Sacanagem....
2 - Nós, que não cobramos soluções, e quando o fazemos só o lembramos na hora do aperto. Esperamos sempre que a solução seja dada pelo outro, e não a buscamos. Não nos unimos, que seja em mutirão, para prevenir a epidemia. Lembro que em 2005 e 2006 tivemos poucos casos de dengue, porque a sociedade se mexeu. Mas ficou só nisso.
É mosquitinho... Vc tá cheio de moral!